30.4.09

# das cartas que não serão enviadas

se você cortasse minha barriga agora, sairiam um sem número de passarinhos levando cartas de amor pra quem quisesse ler. porque o amor tem que ser assim, grande e livre e pra todo mundo. aí eu vestiria a sua pele, esta que me cai tão bem, e dançaria o carnaval até me acabar em poça d'água, e então viraria vapor, pra virar nuvem, pra virar chuva. então na tempestade eu pegaria na sua mão pra voar e caçar redemoinhos, desses que ressoam no corpo como esta vertigem que nasceu no estômago depois que eu te vi.

mas pra isso, meu amor, pegue ali a faca e me fure.

22.3.09

êh boi

acho que eu queria ser o boi que é estraçalhado pelas mil mãos menininhas
é
estraçalhada antes do domingo que vem.

9.3.09

alguma delicadeza




nascer. ainda que contra todas as possibilidades.

5.3.09

vamos lá, Bacas!




Ó, bem aventurado,
Ó feliz!
Quem, por uma sorte do destino,
Se inicia nos mistérios divinos.
A vida vira santa, a alma vira corpo
Bacando nos morros
E pratica sagradas ações
Noite e dia.
E celebra a orgia
Da grande mãe
Cacilda!
E a Dionísios se entrega
Coroa a cabeça de Hera
Um Tyrso levando na mão

Bakxai Bacantes, Bakxai Bacantes
Bakxai Bacantes, Bakxai Bacantes

28.2.09

corpo, distorções & cia










Rodrigo Andreolli. Ió, sátiro!

24.2.09

tratado elétrico e termodinâmico das paixões



#1 - todas as paixões nascem no estômago

# 2 (por Céu d'Ellia):

Escorrem pelas coxas até eletrizar os pés. Simultaneamente dinamizam o peito e explodem o coração pela boca, em palavras, mãos em gestos, dedos ávidos por conectar a outra pele. Nos casos em que o conversor hermético (dito engenharia 3:6/7), está suficientemente carregado de energia fotônica e amritza purificada, a paixão transborda pelos olhos, incandescente, fulminando códigos e regras de conduta. Raramente, ilumina o engenho, mas é possível, desde que haja Amor.


#3
As paixões produzem intensas agitações de elétrons com elevada carga energética nuclear nos espaços entre os órgãos internos. A reação termoquimica dos elétrons na corrente sanguinea causa severa coompressão nas entranhas.

***

escreva você também um postulado e envie!

estômago

essa semana eu só girei em volta do estômago, que é onde nasce tudo. e além do que, o estômago é o meio caminho entre o coração e o útero, isso há de ser importante.


sinceramente, eu não queria ser tão sensível aos meus órgãos. eu queria que eles parassem de falar, de ter essa autonomia toda, de conseguir me desconcentrar tanto. os meus assuntos escorrem da cabeça e se instalam em algum outro lugar onde não deveriam e eu passo a sentir essas novas habitações a me apertar.

são 5h16 e eu sinto tanto sono e tanto calor.

17.2.09

as bacantes #1

#1

as bacantes fazem florescer em mim um cheiro novo, uma brisa que ainda não existia, uma umidez de pés-na-terra que refresca o corpo todo, criam uma fecundidade que poderia gestar uma plantação latifundiária de amor.

10.2.09

banquete

vou bater minha garganta e coração no liquidificador e servi-los com dry martini, enquanto Ella Fizgerald canta Cole Porter na vitrola.

14.1.09

12.1.09

o avesso

Na madrugada de 10 de janeiro sonhei com um bicho que não existe e que se disfarçava de gato. Mas o jeito que o bichano andava estranhava nos olhos: desfilava-se com as partes internas visíveis, os ossos cartilagens vísceras músculos nervos se mantinham coesos em forma de corpo felino sem pele. Todas as intimidades vermelhas expostas sem constrangimento: primeiro porque os gatos não se constrangem, segundo porque entranhas temos todos nós.

Era bonito vê-lo ao contrário. A mim também interessa me desvestir dessa pele e estar do avesso em molde humano. Acho que a conversa entre a carne e o ar é de natureza semi-incendiária, é provável que arda um tanto, porque a gente nesse uniforme de epiderme se distancia um pouco do voo livre e se mantem sempre em temperatura segura.

No dia seguinte li um capítulo d'um livro moçambicano em que um velho de desossava para descansar; pendurava o esqueleto em uma árvore e quedava invertebrado feito molusco a sentir as carnes flácidas.

Talvez seja mesmo importante que cada criatura desmostrasse alguma coisa de quando em quando - revelando a si , em uma primeira espiada, de jeito grotesco; mas, diante de um olhar sensível, de jeito sincero. Eu sem casca pronunciaria esse rubro intimo igual o pseudo gato que me visitou o sono, que alguns até veem mas não são muitos. A pele faz o filtro do rosa, do marrom, do amarelo, mas é muito mais livre se revelar vermelho.

9.1.09

pequenas delicadezas no açude de cocorobó





tem uma hora do dia, pelas cinco da tarde, que a cor do céu e da água se equivalem. a água fica espelhada e dava era vontade de caminhar sobre ela, catando peixinhos pra dar boa tarde.

no céu há todos os tipos de azul e todos os tipos de nuvens. as mais bonitas são as do tipo cabeleira solta de menina esparramada, mais ainda que as nuvens-algodão.

tem esse tilintar do sino do pescoço das cabras que ressoa até no coração, como se o mundo estivesse mesmo em seu devido lugar porque as cabras seguem andando e buscando o que comer.

o sol refletido na água faz um rastro dourado em minha direção. um caminho amarelo para piruetas e muita dança.

sinto que meu peito vai ressentir a ausência de Canudos. a gente encontra o sertão no corpo e pronto, se apaixona.

indo embora e suspirando minha última visão do açude, o céu se pronunciou vermelho, sangrando o eu ir embora.

8.1.09

ser-tão, Canudos - Bahia



Canudos, 08.01.2008





O tempo respira na gente quando os sentidos deságuam. Quando cada entrelinha do nosso corpo-alma flutua no prazer do agora.

A quentura do ser-tão não deixa muita outra opção senão respirar o tempo. ou o tempo respirar em mim. A falta de juízo que dá o sol escorrendo e estalando em demasia sobre os miolos não deixa conchavar outra coisa que não a percepção do quente na pele. ou os sons das outras criaturas a sentir igual, ou os cheiros que o quente arranca de tudo, ou o desejo de encontrar logo a água.

Quando o sol se põe e ouve-se os sons aliviados das criaturas a agradecer o fresco, meu corpo ainda arde e aprecia o azul escuro. nesse azul se pensa melhor: consigo até juntar palavras pra dizer isso aqui.