de algum momento em 2004Já tinha arrancado tufos do próprio cabelo, roído as unhas até arder as carnes dos dedos e não comia e nem dormia e nem respirava de tanto que esperava o dia seguinte chegar. Era patético aquele estado, e às vezes ela dava uns cascudos na própria cabeça sentindo tanta tanta raiva por ser sempre tão honesta. Tinha que agir conforme sentia, não tinha outra escolha, e isso era tão egoísta e imprudente que merecia sim mais e mais cascudos. Tic tac tic tac. O dia seguinte não chegava. Talvez fosse melhor que não chegasse mesmo. As decisões já haviam sido tomadas, eram irreversíveis - e ela morria de medo de vomitar sinceridades sobre o bom senso.
Precisava dormir. Mas as sensações rodavam rodopiavam redemoinhavam e não paravam nunca como naqueles concursos nos quais quem dançasse por mais tempo ganhava um prêmio. Assim era. Ganhava olheiras.
Tic tac tic tac tic
Obsessão pelo tempo. Fitava o relógio e sentia o futuro passar. Gostava mais do ponteiro dos segundos, era mais rápido e dava 1440 voltas por dia. Invejava-o, a estúpida, mas era impossível não compará-lo ao ponteiro das horas, que demora tanto pra percorrer o mesmo percurso. Ela mesma demorava demais pra se rastejar por cada volta em si; ruminava as frustrações com seus três estômagos e a digestão era tão lenta, meu Deus, era interminável.
*Suspiro*
Deitou na cama, desarmada e inofensiva, quietinha esperando mais tempo passar - mais um pouco e estaria limpa novamente. O bom ficaria nas células, o ruim sairia na merda, é sempre assim. Questão de tempo. Não é?