26.11.08

sinapses antigas

de algum momento em 2004


Já tinha arrancado tufos do próprio cabelo, roído as unhas até arder as carnes dos dedos e não comia e nem dormia e nem respirava de tanto que esperava o dia seguinte chegar. Era patético aquele estado, e às vezes ela dava uns cascudos na própria cabeça sentindo tanta tanta raiva por ser sempre tão honesta. Tinha que agir conforme sentia, não tinha outra escolha, e isso era tão egoísta e imprudente que merecia sim mais e mais cascudos. Tic tac tic tac. O dia seguinte não chegava. Talvez fosse melhor que não chegasse mesmo. As decisões já haviam sido tomadas, eram irreversíveis - e ela morria de medo de vomitar sinceridades sobre o bom senso.


Precisava dormir. Mas as sensações rodavam rodopiavam redemoinhavam e não paravam nunca como naqueles concursos nos quais quem dançasse por mais tempo ganhava um prêmio. Assim era. Ganhava olheiras.

Tic tac tic tac tic

Obsessão pelo tempo. Fitava o relógio e sentia o futuro passar. Gostava mais do ponteiro dos segundos, era mais rápido e dava 1440 voltas por dia. Invejava-o, a estúpida, mas era impossível não compará-lo ao ponteiro das horas, que demora tanto pra percorrer o mesmo percurso. Ela mesma demorava demais pra se rastejar por cada volta em si; ruminava as frustrações com seus três estômagos e a digestão era tão lenta, meu Deus, era interminável.

*Suspiro*

Deitou na cama, desarmada e inofensiva, quietinha esperando mais tempo passar - mais um pouco e estaria limpa novamente. O bom ficaria nas células, o ruim sairia na merda, é sempre assim. Questão de tempo. Não é?

6 comentários:

Anônimo disse...

É sempre triste a descoberta que sinceridade é uma sutil forma de egoismo... gostei.

Anônimo disse...

gelei lendo esse texto. que loucura! vou ler de novo. Mas o que era a final de conta?

Cassandra Mello disse...

nossa, anônimo, obrigada! mas me fala quem vc é!

Anônimo disse...

o anômimo sou eu, o Raphael Lima. Meu e-mail é aum_lima@hotmail.com e hoje eu reli o texto... Fiquei chapado... áh, eu vou direto no oficina, estou atado pelos Bandidos. Sábado estarei lá de novo...Mas o que deixou a mina do teu texto toda pá nessa angústia?

Cassandra Mello disse...

raphael, então me dê um alô quando for de novo!

e o texto é autobiografico, melhor não dizer mais nada, hahahaha

Anônimo disse...

Sábadesco tô lá e dou um toque, demorô! E não quis ser invasivo mas minha curiosidade e três vezes maior do que eu... Valeu!
Até!